domingo, 8 de dezembro de 2013

Desencontrárias

Eu queria pedir pra que você não fosse embora, mas seria quase como prepotência da minha parte te fazer um apelo desses. Queria que você ficasse, mas isso não tem nada a ver comigo, tem a ver com o que você faz da sua vida e as consequências dessas suas escolhas no futuro. Mas foda-se, o que eu queria mesmo era que você ficasse. O que eu sempre pedi nas noites de Reveillon finalmente aconteceu esse ano, e com certeza você teve uma grande parcela de culpa nisso que a gente chama de vida. Eu vivi tanta coisa em 2013, sabe? Coisas boas, coisas não tão boas assim, mas eu vivi, e encho a boca pra falar que sim, eu vivi.

Meu primeiro emprego e você tava lá, sempre pronta pra me auxiliar quando eu perdia o controle e só queria sentar naquele canto daquele estoque frio e chorar feito uma criança perdida da mãe na Leader. Eu entrava em desespero porque achava que ninguém gostava de mim, porque realmente parecia que ninguém gostava de mim, porque eu era quieta e nervosa ao mesmo tempo em tudo o que eu fazia, sempre com medo de errar, sempre com medo de falar, sempre com medo. E você sempre me recebia com aquele sorrisão sincero e espontâneo, como quem dissesse "Calma, menina! Tá assim por que?", como se todas as situações constrangedoras que eu vivi fossem nada e o que realmente importasse fosse o Nando Reis que tocava lá em baixo. Eu me descabelava pra fazer um trabalho que ninguém tinha me ensinado como fazer, e você foi uma das poucas que estendeu a mão pra me ajudar no meio daquela loucura. Eu queria ter desistido no meu segundo dia, porque parecia que só forçavam a barra pra ver até onde eu aguentaria, mas eu não desisti. Chegava em casa chorando, deitava no sofá e fazia todo o discurso da demissão pra nossa gerente na minha cabeça, e chorava mais, por me sentir uma perdedora. Eu pensava "Eu não vou desistir! Eu não vou desistir!" e não desisti. Chegava todos os dias de cabeça erguida, fingindo não escutar as fofoquinhas ou o projeto de bullying que algumas faziam, pra ver se o mês acabava mais rápido e eu ganhasse meu suado dinheirinho. Eu até hoje não sei como te agradecer por tudo isso e hoje eu me emociono lembrando desses dias de lutas intermináveis que eu passei nesse primeiro emprego.

Quando a gente começou a conversar e eu entendi quem você era. Devo confessar que foi bem bizarro ir percebendo aos pouquinhos o quão parecida comigo você é, tanto nas escolhas que já fez quanto nas escolhas que talvez faça. Tanto nas pessoas que amou, tanto nas músicas que você canta. A gente é muito parecida e muito diferente ao mesmo tempo, como acho que todos os seres humanos sejam, conservando sempre sua idiossincrasia mas nunca deixando de compartilhar dos mesmos medos e alegrias. Quantas vezes eu já te ouvi falar dos seus amigos de Belém, do seu irmão querido, do seu amor, da sua cidade, do carinho que vocês paraenses tem por esse estado que me parece ser tão singular. Sempre soube que você não era nossa, Fê, sempre soube que você é do mundo e que vive pra ele. Desde o dia em que eu te ouvi falando engraçado e quando comecei a tentar entender a sua perspectiva mediante às coisas. Você é completamente louca e é por isso que eu acho que nossas mentes e corações (por que não?) se encontram nessa catarse quase mediúnica. A medida que o tempo vai passando parece que a gente conhece e desconhece os nossos amigos, e eu te confesso que não sei até que ponto isso é bom ou ruim. Todo encontro é um desencontro e todo desencontro é um encontro, já dizia meu escritor preferido, JP Cuenca, mas o que seria da gente sem essas tais escolhas de todos os dias? O que seria de você se não tivesse escolhido vir para o Rio e ter se reinventado numa nova cidade, cheia de gente estranha, maluca e de coração grande feito eu? O que teria sido de mim se não tivesse deixado currículum naquela loja que eu pretendo nunca mais ter de prestar serviços, mas que me trouxe toda essa experiência de vida?

O que seria das nossas meninas prodígio do futuro sem essas "desencontrárias" de hoje que enxergam sempre o copo meio cheio ao invés do meio vazio? Se eu pudesse te pedir alguma coisa, pediria pra você ficar, mas eu não posso. Não posso te privar de nada porque não tenho controle nem da minha própria liberdade, quem dirá da tua. Eu só espero que você seja muito, mas muito feliz mesmo em tudo o que você se empenhar de verdade pra conseguir, e que se empenhe, por favor. Sem preguiça! Faz isso por mim que eu faço isso por você. Você cresceu, Fê, e vai chegar em Belém uma pessoa diferente só por ter conhecido todos nós daqui. Fica aqui a minha carta aberta a uma amiga que eu fiz nesse ano cheio de surpresas boas e gente linda, cheio de aprendizado e de superação. Não sei se você volta, mas se não voltar, aí está. Não te peço nada além das mesmas energias boas que eu criei por você, e que tudo o que a gente passou tenha algum significado pra nós duas.
E se voltar, fica aí um textinho bonitinho pra você ler sempre que quiser e mostrar pros amiguinhos paraenses que do lado de cá a vista também é bonita e a maré é boa de provar.

Beijo, Égua. E até daqui a pouco! Vou ali comprar um pão e já volto.
Jah Bless!

Luani Mendes

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

C&A da depressão

Minha mãe na sala...

- Luani, liga aqui que eu não tô enxergando. Tem discar e esperar ela pedir o número do cartão.
- Tá... 3...5...3...4...
- Não, pera, é do CPF.
- Tá, mãe. 2...2....3...2... Porra, essa mulher já tá falando outra coisa. Dá não.
- Dá sim, EU TÔ TENTANDO LIGAR PRA ESSA MERDA DESSA C&A POR QUE O QUE? TÃO ME COBRANDO 200 REAIS SENDO QUE O QUE? EU JÁ PAGUEI A PORRA DA CONTA. AÍ EU FUI LÁ NA MERDA DA LOJA E ME FALARAM O QUE? QUE É MULTA. AGORA CÊ VÊ...
- Calma. Vou tentar de novo. Ih, ó, anota o número do protocolo aí... 7...2...2..3...3..2..4...5..4...
- Muito grande esse número.
- Aqui mãe, atendeu. Toma.
- Oi, boa noite. Eu gostaria de fazer uma reclamação. Parece que vocês estão me cobrando 200 reais numa conta que eu já paguei e... NÃO PERA! Oi... boa noite. É que eu gostaria de saber... Tá, CPF? Tá. 2...2...3... Hãn? RG? PEGA LÁ MEU RG NO QUARTO, LUANI. Tá, só um minutinho viu? Então, 7...7...7...7... Bairro? Ilha do Governador. CEP? Luani, pega a conta de luz ali na mesa que tem o CEP. Ce sabe o CEP de cabeça? AI MEODEOS MOÇA EU NÃO SEI O CEP.
Não, eu já paguei a conta. Já paguei. Eu não quero que reduzam pra 100, porque eu já paguei e NÃO HÁ MOTIVOS PARA MULTA POIS EU JÁ PAGUEI.
Alô? Tá bom, eu espero. Oi! Boa noite... sim... OLHA SÓ MINHA FILHA EU JÁ EXPLIQUEI PRAS 4 MOÇAS QUE EU NÃO QUERO CONTINUAR PAGANDO UMA COISA QUE JÁ ESTÁ PAGA SENDO QUE EU NEM SEI O QUE É ISSO QUE ME ESTÁ SENDO COBRADO. EU ESTOU AQUI HÁ UMA HORA PRA RESOLVER UMA COISA QUE NÃO HÁ MOTIVOS, VCS ESTÃO DE SACANAGEM COM A MINHA CARA PORQUE NÃO É POSSÍVEL, NÃO É POSSÍVEL.
Tá, eu espero.
Oi, tudo bom? Sabe o que que é? É simples. Se vocês não me explicarem que merda de conta é essa, que a propósito eu sei que não estou devendo, eu vou botar vocês NO PAU E AÍ EU QUERO VER SÓ E VOCÊS VÃO VER SÓ UMA COISA... Heim? Tá, só um minuto.
Luani, anota aí o outro número na agenda que tem que ligar. Vou botar tudo na justiça e vai ser igual aquela vez da Claro! Ah, mas eles vão ver só.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O caroço do angu

Então vamos lá. Eu e essa minha velha mania de achar que minha vida é uma arte, que alguma coisinha do meu dia seria um filme, um livro ou uma música, e que o narrador, inconsciente, sou eu. Tipo no "Paris Manhattan" com aquela voz em off do Woody Allen na parede do quarto da protagonista. No meu caso, durmo, acordo e faço graça com o Drummond da minha parede branca. Tá vendo como eu sou?

I guess what I'm trying to say (ru mine? arctic monkeys) é que no fundo, bem no fundo, devo fazer isso pra tentar fugir da minha vidinha banalzinha onde nada acontece quando tudo acontece. Como Amelie Poulain, também já me perguntei quantas pessoas estariam tendo um orgasmo neste exato momento, e morro de nervoso quando em um filme o motorista não olha para a estrada. Assim como a personagem do "Paris, Texas" (Wim Wenders), já entrei em intermináveis discussões e criei longos discursos com alguém que já tinha ido embora da minha vida há pelo menos uns três meses. O pior da catarse ser tão inexplicável é que, do mesmo jeitinho subjetivo que a cena aparece no filme, eu também conseguia ouvir a voz da pessoa me respondendo e até mesmo sentir o cheiro da criatura. E tenho absoluta certeza que se nos encontrássemos um dia, eu não conseguiria dizer nada daquilo que eu falei ao espelho. Paixão é foda...

Outro exemplo muito bom que eu tenho é meu caso com "Vicky Cristina Barcelona". Sim, podem comemorar, sou Cristina Futebol Clube quando o assunto é liberdade (principalmente se o caso fosse Penélope Cruz. Ai...). O fato é que sempre que me perguntam sobre sexualidade eu respondo com a mesma cara cínica de quem supostamente acabou de chegar de uma aventura sexual em Barcelona com um casal de artistas plásticos super conceituado e sensual: "pra quê rótulos? Acho que devemos viver de forma livre, sem pensar no que vier depois. A vida é tão bonita, as mulheres e os homens, para que definir as coisas? (suspiros)".

Vamos a mais um exemplo, desta vez, um tanto mais sério. Nunca sei em qual tipo de filme o meu dia vai se encaixar. Se em uma comédia tosca estilo "American Pie" (porque eu tenho 18 anos e convenhamos, é muito fácil acontecer.), se em um filme francês tipo "Azul é a cor mais quente" do qual ao invés de me apaixonar pela desconhecida menina de cabelo azul na rua eu me apaixono pela desconhecida menina de tatuagem no braço na Lapa, se em um preto e branco como Frances Ha do qual eu sou obrigada a me manter sozinha na cidade engolidora de sonhos que é esse Rio de Janeiro, ou em um desses Bad Ass do Bruce Willis. Porque no filme mesmo, o personagem nunca sabe no que tá se metendo, e nós que compramos a história só entendemos a mensagem pelo modo como nos é passado, pelo modo que o filme é dirigido, cortado, editado, fotografado ou pela trilha sonora. Quantas vezes já rimos de situações perturbadoras só porque a trilha era um instrumental meio Tom & Jerry, meio os 3 patetas? Tudo é questão de ponto de vista, assim como as nossas vidas.

Anyway, como diz uma amiga minha: "a tua vida é mais interessante do que um filme, porque você tá fazendo isso acontecer, e é real." Tá bom, Dands, prometo pra você que vou parar de me projetar num roteiro cinematográfico, até porque, com esse meu (des)talento o máximo que eu chegaria seria ao cineAngra (ó a maldade...). Parar de ver caroço no angu e viver do meu jeito. IT'S MY LIIIIIIFE, IT'S NOW OR NEVERRRR.... Ok, nada a ver. Mas será que se a gente simplesmente parar, a gente muda pra pior? Não teria que ser tipo com o álcool, que você vai parando aos poucos? Senão eu posso acabar igual a Amy Winehouse, né? E não queremos isso, né? Então eu vou parando aos pouquinhos. Um filme por vez, nessa bagunça de ser eu.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Cê sabe

Mas eu só queria ser sua amiga, juro! Porque você parece ser tão legal, sempre com esse sorrisão bonito no rosto. Queria te dar uns beijos, ficar agarradinha no sofá por um sábado inteiro, te ver rindo com algum mosquito na parede branca. Queria ser sua amiga, só isso mesmo, juro. Amiga que dá beijo todo dia, e essas coisas, cê sabe. Só amizade.

Amor então, também acaba?

A certeza acaba. Porém, para alguns depois de um amor "fail" ou fica o medo ou o gosto pelas coisas bonitas da vida. Aprende-se a olhar o lado bom dos objetos, diálogos e seu gato dormindo em cima da sua barriga. Com aquele toque poético da paixonite, o mundo fica mais bonitinho, mesmo que não haja mais nada que te tire os pés do chão. Por isso que eu falo:

A arte só existe após o amor. Bleh.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

tpm

Das dores e amores de ser mulher, a pior é a dor do útero. Sem útero, sem opinião. Porque tudo o que eu quero agora é assistir GIRLS debaixo das cobertas, só por causa da fotografia que me remete ao frio (vai entender...), a Lena Dunham e os diálogos e situações totalmente humanos pra minha realidade, por mais que se passem em NY com 99,99% do elenco composto por classe média com roupas caras usando salto alto o dia inteiro. (só não é 100% porque provavelmente esqueci de algum ferrado na trama.) Não me importando com nada disso, de certa forma, me sinto um pouco a Lena na série. Mas que porra, não era disso que queria falar.

O fato é que sentada no sofá, com tanta informação ao redor pela tv, jornais, um dos cinco livros que tento ler ao mesmo tempo do lado, apostilas do vestibular, reggae e a série no computador, começo a fazer aquele velho balanço das recentes ambições. Amor e desamor caminham juntamente por um lado, já por outro, o ódio de tudo e a saudade desabam em forma de lágrimas sem sentido algum pra quem estiver fora de mim. Fora de mim, tudo é bagunça. Dentro é pior ainda. Seja no útero ou no coração (pior analogia de todos os tempos, eca!).  E sim, a bagunça é real, é não é drama não. O papo aqui é outro, e também não tem nada a ver com quem eu amo ou deixo de amar. Tem a ver com o que eu sou capaz de fazer em tempos de vulnerabilidade corporal e emocional, pra chegar na tal afirmação feminina. Nosso corpo é puro amor. Às vezes dói, mas no fundo é amor.

assinado,
tpm

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Mundo Grande

O amor e a poesia. O coração. Depois que a gente se apaixona, desapaixona, apaixona de novo e se perde nesse plano paralelo, começa a enxergar a beleza das coisas. Depois do amor não vem a dor. Vem o olho quase microscópico que busca por alguma coisa que te faça sentir bem, como um poema do Drummond. Por falar de amor, você ama. Ama a sensação da página nova entre os dedos, do cheiro irresistível de livro novo, ama cada pedaço do papel que traz consigo alguns dos sentimentos mais lindos desse vasto mundo.

Você percebe que não está triste quando sente amor com o Drummond, na voz do Drummond, e sabe que se ninguém entender nada de nada, o Drummond ressuscita pra explicar pro mundo sobre o próprio mundo. Pra falar de amor, como só ele poderia falar, e explicitar essa capacidade resignada de que seu coração, assim como o meu, é bem pequeno. Ah, Drummond... como eu agradeço aos céus por você ter vivido nesta terra e ter deixado tanta beleza pra eu amar. Por você ter me ensinado que o amor nada mais é do que a arte, e a arte é o amor. Obrigada e me desculpe pelas palavras gastas. É que acabei de ler aquele seu poema "Mundo Grande", e fiquei verdadeiramente emocionada.